"A medida que desenvolve sua
consciência, todo ser humano quer saber qual é o sentido da vida. Procuramos
esse sentido nos diplomas, nas riquezas, nos projetos filantrópicos, no bem
estar social. Como andarilhos nesta complexa existência, frequentemente
indagamos: Quem somos? Por que existimos? Contudo, não poucas vezes, quanto
mais procuramos nossas respostas, mais expandimos nossas dúvidas.
O ser humano é uma pergunta que
por dezenas de anos busca uma resposta. Aqueles que não se perturbam diante dos
mistérios que cercam a vida ou estão entorpecidos pelo sistema social ou nunca
usaram com profundidade a arte de pensar. Trabalhamos, amamos, planejamos o
futuro, mas não percebemos que somos músculos prontos inseridos no espaço.
Olhe para a lua e imagine-se
pisando em um solo. Perceba o quanto somos pequenos. Temos a impressão de
sermos os donos do mundo e entender tudo. Ledo engano! Não somos donos de nada,
nem da vida que pulsa em nossas células. Não entendemos quase nada. Em qualquer
área, a ciência produziu conhecimento que possuímos pode se tornar um véu que
encobre a nossa ignorância.
Temos por exemplo a química.
Conhecemos a matéria, as moléculas, os átomos, a partículas subatômicas, ondas
eletromagnéticas. O que conhecemos depois disso? Muito pouco, embora ainda haja
uma escala infinita de conhecimento. Atados ao tempo e ao espaço, queremos
entender o mundo, e mal sabemos explicar quem somos.
Houve um homem que via o mundo
além do tempo e do espaço. Era de uma estatura mediana como qualquer um se nós,
mas naquele homem se concentrava a força cradora do universo e de tudo o que tem vida, e toda a energia
cósmica. Esse homem foi Jesus Cristo, o Mestre dos Mestres.
Um dia, quando os fariseus
debatiam com o mestre, ele disse algo que ninguém em plena sanidade mental
teria coragem de dizer. Afirmou que sabia de onde tinha vindo e é para onde ia
(João 8:14). Nenhum de nós sabe de onde veio e para onde vai, a não ser que use
a fé. A fé é ausência de dúvida. No entanto, se usarmos exclusivamente a razão,
somos obrigados a confessar que a dúvida é a mais íntima companheira de nossa
existência.
Como Jesus Cristo podia afirmar
que sabia de onde vinha e para onde ia? São impressionantes os paradoxos que o
cercam. Ao mesmo tempo que previa a sua morte, afirmava que já existia antes
desta curta existência e depois dela continuaria existindo. Ao ser preso, todos
os seus amigos o abandonaram. Ao ser crucificado, seus amigos e inimigos
pensaram que ele havia mergulhado no caos da morte. Mas, ao contrário da
lógica, ele sabia para onde ia. Declarava que ia para além de um túmulo
fechado, escuro e úmido.
Somos exclusivistas; Jesus
desejava incluir. Sua missão era surpreendente. Ele não veio para fundar uma
nova escola de dogmas e ideias. Seu plano era infinitamente maior. Veio
introduzir o ser humano na eternidade, trazê-lo de volta para o Autor da Vida e
dar-lhe o seu Espírito. Como faria isso? Vamos procurar entender passo a passo.
Se há livros misteriosos,
repletos de palavras e situações enigmáticas são os evangelhos. Nos textos
desses livros há indicação clara de que o nascimento, o crescimento, o
anonimato, a profissão e a missão de Jesus foram estritamente planejados.
Nada foi ao acaso. Esse
planejamento fica claro no texto em que Mateus descreve o precursor de Jesus,
aquele que foi encarregado de apresentá-lo ao mundo. (Mateus 3:4) O evangelista
diz que João Batista veio propositadamente como um homem estranho, com vestes,
moradia e alimentação incomuns. João vestia pele de camelo, comia gafanhotos e
mel silvestre e morava no deserto. Nada mais estranho. Convenhamos que nenhum
arauto de um rei teria tal comportamento.
Jesus perguntou aos fariseus
sobre o precursor: “O que esperavam? Um homem com vetes finas?”E continua
afirmando que os que têm vestes finas habitam em palácios, enquanto que ele e
João Batista optaram por uma vida sem privilégios sociais. Eram simples por
fora, mas ricos por dentro.
O Autor da vida não queria que as
pessoas se dobrassem aos seus pés pelo seu poder, mas pelo seu amor. Os seres
humanos sempre se deixaram fascinar mais pelo poder financeiro e político do
que pelo amor. Mas Jesus, que podia ter o mundo aos seus pés se usasse seu
poder, preferiu ser amado a ser temido. Por incrível que parece, o
Todo-Poderoso veio procurar amigos, e não escravos, por isso veio pessoalmente
conviver com as mais diferentes pessoas. Quantos de nós, ao conquistar mais
poder, perdemos os amigos?
Segundo os textos dos evangelhos,
Deus tem plena conciência de todas as necessidades humanas. Cada dor, angústia
ou aflição toca sua emoção. Ele nunca foi indiferente ao pranto dos pais que
perderam seus filhos. Está presente em cada lágrima derramada, em cada momento
de desespero. Penetra em todos os seus momentos de solidão e de descrença da
vida.
Certa vez, ao ver uma viúva da
cidade de Naim que perdera seu único filho, Jesus ficou profundamente
sensibilizado (Lucas 7:11). Ela não precisou lhe dizer nada sobre a sua
solidão. Ele ficou tão emocionado com sua dor, que fez um milagre sem que ela
lhe pedisse.
Apesar de saber de todas as
coisas, Deus não intervém na humanidade da forma como gostaríamos e como Ele
desejaria intervir. Caso contrário, passaria por cima dos seus próprios
princípios. Transgrediria a liberdade que dá aos seres humanos de seguirem seus
destinos na pequena bolha do tempo.
Observem o comportamento de Jesus
enquanto caminhava na Judeia e na Galiléia. Ele não presionava ninguém para
segui-lo, nem mesmo usava seus milagres para subjugar qualquer pessoa. Somente
isso explica por que não impediu Pedro de negá-lo, nem Judas de traí-lo.
Comunicou o que iria acontecer e não fez nada para mudar a disposição dos dois.
Nunca alguém honrou tanto a liberdade humana. Falamos em liberade nos tratados
de direito e de filosofia, mas pouco sabemos sobre ela.
Deus não poderia dar àqueles que
criou à sua imagem e semelhança menos
liberdade do que dá para si mesmo. O Autor da vida sempre respeitou a
liberdade de suas cristuras porque sempre respeitou a sua própria.
Às vezes, as pessoas andam por
caminhos desconhecidos, por trajetórias acidentadas. Essas trajetórias geram a
necessidade de milhares de diálogos entre elas e Deus e, por fim, tal
comunicação, em forma de oração e de meditação, se torna um relacionamento
íntimo e efetivo entre Deus e o ser humano. O Mestre da Vida suportou todo o
seu sacrifício para gerar pessoas livres e felizes, e não máquinas humanas
controladas por ele.
Um dia as crianças que morreram
na mais tenra infância conquistarão uma personalidade: construirão ideias,
sentirão, decidirão, terão uma história. Jesus mesmo disse que o reino dos céus
era das crianças, referindo-se não apenas às de pouca idade, mas também às
pessoas que não se diplomam na vida, que não se contaminam com a
auto-suficiência nem se consideram prontas (Mateus 18:3).
Por outro lado, os homens o
julgaram e o odiaram injustamente; por outro, ele planejou cada passo do seu
julgamento e morte. Com precisão cirúrgica, traçou todos os passos de sua vida.
Por incrível que pareça, nada escapou ao seu controle. Disse claramente a
Pilatos que tinha vindo à terra com propósito específico. Era um mestre e um
maestro da vida. Enquanto traçava o seu plano, afinava a emoção dos que o
cercavam e os ensinava a viver.
Toda pessoa que quer brilhar em
sua história necessita ser empreendedora, criativa, ter uma dose de ousadia e
possuir metas bem elaboradas. A criatividade e a ousadia de Jesus para cumprir
suas metas eram fascinantes. Planejou morrer pela humanidade de um modo
específico e num tempo determinado. Amou apaixonadamente uma espécie que
conhecia mal a linguagem do amor.
Aos olhos dos filósofos, dos pensadores
humanistas, dos cientistas sociais e até do senso comum, é incompreensível a
morte de Jesus. Porém, se sairmos da bolha do tempo, do sistema social em que
vivemos e das preocupações da existência que ocupam nossa mente,
compreenderemos a intenção do mestre da Vida. Perceberemos que ele foi o maior
empreendedor de que se tem notícia.
Como já dissemos, Jesus Cristo
não veio inaugurar uma nova escola do pensamento, novos rituais espirituais,
nem ditar regras de comportamento, embora estabelecesse nobilíssimos princípios
de conduta. Seu plano incluía todos os homens e todas as mulheres de todas as
religiões. Os judeus, os islamitas, os budistas, os hinduístas, os sufistas, os
negros, os brancos, os amarelos, os ricos, os miseráveis, as prostitutas, os
puritanos, os doentes, os sadios, enfim, todos os seres humanos de qualquer
época e cultura estão incluídos no seu projeto.
O Criador, através de seu filho
unigênito, quis dar aos mortais uma longevidade que a medicina jamais sonhou.
Quis estabelecer uma justiça que os fóruns do mundo inteiro jamais imaginariam
que existisse. O mais justo e dócil dos homens veio sangrar por nós e causar a
maior revolução da história da humanidade. Que plano fenomenal!
Apesar do plano de Deus ser
inigualável, temos de indagar: se há um criador com infinita sabedoria, por que
Ele não arrumou um modo mais fácil de resgatar a humanidade? Porque o filho do
Altíssimo precisou nascer num estábulo, levar uma vida simples, dormir ao
relento, ser torturado, ter seu corpo açoitado,ser humilhado publicamente e,
por fim, morer lenta e dramaticamente cravado numa trave de madeira?
Para entender a essas perguntas
temos de ler inúmeras vezes suas biografias e, tanto quanto possível, nos
esvaziar de nossos preconceitos para enxergar o problema da humanidade com os
olhos do mestre.
O problema está ligado a dois
pontos fundamentais da existência do ser
humano: a debilidade física do corpo e a incapacidade de gerenciar pensamentos
e emoções. Vamos entender melhor..."
CURY, Augusto. O Mestre da Vida. Jesus
o maior semeador de alegria, liberdade e esperança. Análise da Inteligência de
Cristo, Cap. 10 pág. 138-144, Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 2006.