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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Deus existe?


O Argumento Cosmológico Kalam – Baseado no Início do Universo


Trecho do livro: O novo ateismo e os argumentos para a existência de Deus. CRAIG, William Lane.Tradução, Revisão e Edição: Eliel Vieira, 2010.




Aqui temos uma versão diferente do argumento cosmológico, que eu batizei de argumento cosmológico kalam, em homenagem ao seu criador islâmico medieval (kalam é a palavra árabe para “teologia”):

1. Tudo o que começou a existir tem uma causa

2. O universo começou a existir

3. Logo, o universo tem uma causa.

Uma vez que cheguemos à conclusão de que o universo teve uma causa, nós podemos analisar quais propriedades tal causa deveria ter e acessar sua significância teológica.
Novamente o argumento é rígido. Assim, a única questão aqui é se as duas premissas são mais plausivelmente verdadeiras do que suas negações.

Premissa 1            

A premissa 1 parece ser obviamente verdadeira – no mínimo, mais do que sua negação.
Primeiro, ela está fundamentada na verdade necessária de nada pode começar a existir não sendo causado por nada. Sugerir que coisas podem simplesmente surgir a todo tempo do nada é literalmente algo pior do que mágica.

Segundo, se coisas podem realmente vir a existir a partir do nada, então é inexplicável porque nunca alguma coisa observável veio à existência sem causa alguma.

Terceiro, a premissa 1 é constantemente confirmada em nossa experiência quando observamos coisas que começa a existir pela ação de causas antecedentes.

Premissa 2

A premissa 2 pode ser sustentada tanto por argumentos filosóficos quanto por evidências científicas. Os argumentos filosóficos visam mostrar que um regresso infinito de eventos passados não pode existir. Em outras palavras, a série de eventos passados deve ser finita e precisa ter tido um começo. Alguns destes argumentos tentam mostrar que é impossível existir um número infinito de coisas; portanto, um número infinito de eventos passados não pode existir. Outros tentam mostrar que uma série infinita de eventos passados jamais poderia ocorrer; uma vez que uma série de eventos passados obviamente ocorreu, então o número de eventos passados deve ser finito.
A evidência científica para a premissa 2 é baseada na expansão do universo e as
propriedades termodinâmicas do universo. De acordo com o modelo do Big Bang para a origem do universo, tanto o espaço físico quanto o tempo, juntamente com toda matéria e energia no universo, vieram a existir em um ponto do passado cerca de 13.7 bilhões de anos atrás (Fig. 1).




Figura 1: Representação geométrica do modelo espaço-tempo. Espaço e tempo começam na singularidade inicial cosmológica, antes disto, literalmente nada existia.

O que torna o Big Bang tão impressionante é que ele representa a origem do universo a partir de nada, literalmente. Como o físico Paul Davies explica, “o surgimento do universo, como discutido na ciência moderna [...] não é apenas uma questão sobre impor algum tipo de organização [...] a um estado incoerente anterior, mas trata-se literalmente do surgimento de todas as coisas físicas a partir do nada”6.

Claro, os cosmólogos têm proposto teorias alternativas ao longo destes anos para tentar evitar este início absoluto, mas nenhuma destas teorias encontrou abrigo na comunidade científica como mais plausível do que a teoria do Big Bang. Na verdade, em 2003 Arvind Borde, Alan Guth e Alexander Vilenkin provaram que qualquer universo que esteja em um estado de expansão cósmica não pode ter um passado eterno, mas precisa ter um início absoluto. A prova deles permanece independentemente da descrição física do período inicial do universo, o que ainda ilude cientistas, e se aplica até mesmo a qualquer modelo de multiverso, do qual o nosso universo seria apenas uma parte.

Vilenkin diz sem rodeios:

É dito que um argumento é o que convence os homens racionais e uma prova é o que convence até mesmo uma pessoa irracional. Com a prova agora na mesa, os cosmólogos não podem mais se esconder atrás da possibilidade de que o universo tem um passado eterno.
Não há escape, eles têm de encarar o problema do começo cósmico.7
Além do mais, em acréscimo à evidência baseada na expansão do universo, nós temos evidências termodinâmicas para o começo do universo. A segunda lei da termodinâmica prediz que em um conjunto finito de tempo, o universo irá progressivamente se tornar um lugar frio, escuro, diluído e sem vida. Mas se isto já aconteceu por causa do tempo infinito, então o universo deveria agora estar em tal estado de desolação. Os cientistas concluíram, então, que o universo deve ter começado a existir em um tempo finito passado e está agora caminhando para este processo de encerramento.

Conclusão

Segue-se logicamente destas duas premissas que o universo teve uma causa. O proeminente filósofo ateu Daniel Dennett concorda que o universo teve uma causa, mas ele acha que a causa do universo foi o próprio universo! Sim, ele está falando sério! Naquilo que ele chama de “o truque boot-strapping final”8, ele afirma que o universo criou a si mesmo.9
A visão de Dennett obviamente não tem sentido algum. Perceba que ele não está dizendo que o universo é autocausado no sentido de que ele sempre existiu. Não, Dennett concorda que o universo teve um começo absoluto, mas afirma que o universo trouxe a si mesmo à existência. Mas isto é claramente impossível, pois para que ele criasse a si mesmo, o universo já teria de existir. Ele teria de existir antes que ele existisse! A visão de Dennett é assim logicamente incoerente. A causa do universo deve ser, portanto, uma causa transcendente, além do próprio universo.
Sendo assim, que propriedades tal causa que gerou o universo deveria ter? Como causa do espaço e do tempo, esta causa deve transcender espaço e tempo e, portanto, existir eternamente e não-espacialmente (no mínimo existir à parte do universo). Esta causa transcendente deve ser, portanto, imutável e imaterial, pois (1) qualquer coisa que eterna deve ser imutável e (2) qualquer coisa que é imutável deve ser não-física e imaterial, uma vez que coisas materiais mudam constantemente tanto no nível molecular quanto no nível atômico. Esta causa não pode ter um começo e deve ser não-causada, pelo menos no sentido de eliminar quaisquer condições causais anteriores, uma vez que um regresso infinito de causas não pode existir. A navalha de Ockham (o princípio de
que não deveríamos multiplicar causas explicativas além do necessário) afastará qualquer outra causa uma vez que apenas uma causa é requerida para explicar o efeito. Esta entidade deve ser inimaginavelmente poderosa, se não onipotente, uma vez que ela criou o universo sem nenhuma causa material.
Finalmente, e de forma notável, tal causa primeira transcendente é plausivelmente pessoal. Nós vimos em nossa discussão do argumento da contingência que a personalidade da primeira causa do universo é implicada por causa de sua eternidade e sua imaterialidade. As únicas entidades que se encaixam nestas propriedades são mentes ou objetos abstratos como os números. Mas como objetos abstratos não possuem relações causais, portanto, a causa transcendente para a origem do universo deve ser uma mente incorpórea.10
Além do mais, a personalidade da primeira causa também é implicada pela própria natureza do efeito gerado, uma vez que a origem de um efeito com um começo é uma causa sem começo.
Vimos que o início do universo foi o efeito de uma causa primeira. Pela natureza do caso esta causa não pode ter tido um começo para sua existência ou qualquer causa anterior. Ela simplesmente existiu imutavelmente sem começo e em um tempo finito passado trouxe o universo à existência.
Agora, isto é muito peculiar. A causa está em algum sentido eterno e o efeito que ela produziu não é eterno, começando a existir em algum tempo finito atrás. Como isto pôde acontecer? Se as condições suficientes para o efeito são eternas, então o efeito não deveria ser também eterno? Como pode um evento inicial vir a existir se a causa deste evento existe imutável e eternamente? Como pode a causa existir sem seu efeito?
Parece existir apenas uma maneira de resolver este dilema e é dizer que a causa para o começo do universo é um agente pessoal que livremente decidiu criar um universo no tempo. Os filósofos chamam este tipo de efeito de “causação agente”, e uma vez que o agente é livre, ele pode iniciar novos efeitos ao simplesmente criar condições que não existiam anteriormente. Desta forma, o Criador pode existir imutável e eternamente, mas escolheu criar o mundo no tempo. (“Escolha” não significa que o Criador mudou de idéia sobre a decisão de criar, mas que ele livre e eternamente intencionou-se em criar um mundo com um início.) Ao exercitar seu poder causal, portanto, ele trouxe este mundo com um início à existência11. Assim a causa é eterna, mas o efeito não é. Desta
forma, então, é possível ao universo temporal ter sido trazido à existência por uma causa eterna: através da livre vontade de um Criador pessoal.
Sendo assim, com base na análise da conclusão do argumento, nós podemos, portanto,inferir que um Criador pessoal do universo existe; que ele é não-causado, sem começo, imutável, imaterial, eterno, não-espacial e inimaginavelmente poderoso.
Na cena filosófica contemporânea, filósofos como Stuart Hackett, David Oderberg, Mark Nowacki e eu temos defendido o argumento cosmolóigco kalam.12
                                                                                                                                
5 Alexander Pruss, The Principle of Sufficient Reason: A Reassessment (Cambridge Studies in Philosophy; Cambridge: Cambridge University Press, 2006); Timothy O’Connor, Theism and Ultimate Explanation: The Necessary Shape of Contingency (Oxford: Blackwell, 2008); Stephen T. Davis, God, Reason, and Theistic Proofs (Reason and Religion; Grand Rapids: Eerdmans, 1997); Robert Koons, “A New Look at the Cosmological Argument,” American Philosophical Quarterly 34 (1997): 193–211; Richard Swinburne, The Existence of God (2nd ed.; Oxford: Clarendon, 2004).

6 “In the Beginning: In Conversation with Paul Davies and Philip Adams” (17 de Janeiro de 2002). .

7 Alex Vilenkin, Many Worlds in One: The Search for Other Universes (New York: Hill and Wang, 2006), 176.

8 Bootstrapping é um termo de origem inglesa que se originou na década de 1880 como um acessório para ajudar a calçar botas, e gradualmente adquiriu uma coleção de significados metafóricos adicionais. O tema comum a todos esses significados é a realização de um processo sem ajuda externa, mas com etapas de facilitação interna. [Nota do Tradutor]

9 Daniel Dennett, Breaking the Spell: Religion as a Natural Phenomenon (New York: Viking, 2006), 244.

10 Para uma discussão sobre a possibilidade de uma personalidade eternal, veja meu livro Time and Eternity: Exploring God’s Relationship to Time (Wheaton: Crossway, 2001), cap. 3.

11 Tal exercício de poder causal plausivelmente trouxe Deus para dentro do tempo no momento da criação.

12 Stuart Hackett, The Resurrection of Theism: Prolegomena to Christian Apology (2nd ed.; Grand Rapids: Baker, 1982); David Oderberg, “Traversal of the Infinite, the ‘Big Bang,’ and the Kalam Cosmological Argument,” Philosophia Christi 4 (2002): 303–34; Mark Nowacki, The Kalam Cosmological Argument for God (Studies in Analytic Philosophy; Amherst, NY: Prometheus, 2007); William Lane Craig and James Sinclair, “The Kalam Cosmological Argument,” in The Blackwell Companion to Natural Theology (ed. William Lane Craig and J. P. Moreland; Oxford: Wiley-Blackwell, 2009), 101–201.